segunda-feira, 10 de junho de 2013

[Resenhas] Teatro para crianças - reflexões Brasil/Argentina


Boa tarde amigos leitores!! Quase dois meses se passaram desde a última postagem e a ausência daqui vem me consumindo... Assim, deixo duas breves reflexões sobre a especifidade do Teatro para crianças. A primeira feita com base em alguns capítulos do livro Pecinha é a Vovozinha do jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto e a segunda com base em textos da especialista argentina em teatro e literatura para crianças e jovens Nora Lia Sormani. Embora pequenos e até repetitivos, vale a pena dar uma olhada nos dois textos. Reafirmando a necessidade de garantirmos os direitos básicos infantis (aqui destacados aqueles relacionados ao acesso e a vivência em arte), para além da lógica de mercado e de subestimação/submissão das crianças pequenas e bem pequenas!!!  Infelizmente vivemos em tempos em que é necessário defendermos o óbvio!!!

As fotos são dos grupos de teatro que super/mega recomendo: Teatro Ventoforte; Grupo de Teatro Pé de Moleque e Grupo Sobrevento de Teatro. Quando tiverem oportunidade não percam!!!




Abraços,

Lorena Oliveira

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Dib Carneiro Neto

Um círculo vicioso.

Neste primeiro capítulo do livro Pecinha é a Vovozinha! Dib Carneiro Neto sinaliza a condição de círculo vicioso que impera e emperra a produção de um teatro para crianças no Brasil. De acordo com ele “(...) sem público não há bilheteria, sem bilheteria não há interesse do patrocinador, sem patrocínio não há produção decente, sem produção decente não há público...” (p.6). Para além deste círculo,  o autor considera também o equivoco por parte de pais, educadores, público em geral, e dos próprios dramaturgos que escrevem para crianças; em relação ao pensamento de que o teatro para os pequenos deve ser um teatro didático, um teatro que ensine e transforme as crianças em “seres melhores. Para ele, embora alguns cuidados sejam necessários, tendo em vista a especificidade deste público, “Um bom texto de dramaturgia para jovens e crianças não é o que nasce querendo manipular, formar, educar, orientar, catequizar, mas aquele que faz disso tudo uma decorrência de sua livre condição de obra de arte.” (p.9) 


Os dez pecados.

No segundo capítulo seu objetivo é suscitar a reflexão a cerca dos “dez pecados mais comuns cometidos nos palcos de teatro infantil”. A saber:

Excesso de intenções didáticas.
Uso de humor fácil e grosseiro.
Excesso de efeitos multimídia.
Obsessão pela lição de moral. 
O lobo mau ficou bonzinho.
Participação forçada da plateia.
A camisa de força dos rótulos.
A síndrome do nariz de palhaço.
O desleixo nos diálogos.
As armadilhas da hora do sorteio.

Tendo em vista os objetivos desta resenha, considera-se desnecessário especificar item por item, sendo em alguns casos, óbvias as intenções do autor na elaboração das frases que dão nome aos “pecados” cometidos nos palcos de teatro infantil. Pensemos então nas proposições não óbvias: o que o autor quis dizer com “O lobo mau ficou bonzinho”? Ou com a “A camisa de força dos rótulos”? 
Pode-se dizer que nestes dois casos, foram objetivos do autor criticar o fato de que “questões” externas a especificidade do teatro, no caso a “transformação” dos contos de fadas originais em versões padronizadas que minimizam ou excluem questões importantes para sua construção dramática (como a morte e o mal); ou a compartimentalização das idades nos espaços intransponíveis que compõem as classificações indicativas; acabam por impedir a construção de um teatro de qualidade verdadeiramente escrito e encenado para as crianças

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Nora Lia Sormani 

Em busca de uma caracterização do teatro para crianças.

Sormani inicia sua reflexão considerando a condição do teatro infantil em sua especificidade, sem perder de vista sua conexão com o todo do fenômeno teatral; dizendo que este se constitui  em torno dos seguintes fatores: 

Trata-se de um conjunto de criações.
Os agentes criadores responsáveis pela elaboração de um produto estético, tanto dos textos dramáticos como dos textos espetaculares.
Os organismos de gestão responsáveis pela conexão entre o produto estético e o público. Empresários, salas de espetáculo, assessores de imprensa, etc.
As instituições legitimadoras responsáveis pela conexão entre os agentes criadores e os organismos de gestão. Imprensa, festivais e prêmios, produção especializada da área, etc.
O público e/ ou leitores. 

  Deste modo, partindo da ideia de que tais fatores também constituem o teatro “para adultos”,  como delimitar e reconhecer o teatro infantil? Para a autora, “O teatro infantil é o setor do campo teatral vinculado com os fenômenos da cultura infantil.” (s.n.) 
Neste sentido, afim de melhor explicitar seu entendimento de cultura infantil, Sormani faz algumas considerações a cerca das ideias de cultura e de infância. Como definida por Eduard D. Tylor em 1874, “Cultura (…), tomada em seu amplo sentido etnográfico, é esse complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral, direito, costumes e quaisquer outras atitudes e hábitos que o homem adquira como membro da sociedade.” (s.n) Para definir o conceito de infância a autora faz referência aos escritos do sociólogo espanhol Ferrán Casas. Este parte do termo oriundo do latim, onde “in-fale” é aquele que não fala. De acordo com este autor o termo infância deriva daí; tendo havido uma série de mudanças ao longo da história que fizeram com que chegássemos, a “(...) definir a infância como um conjunto de características psico-sociobiológicas de sujeitos em estado de desenvolvimento. [Destacando que] Cada sociedade, ao longo de sua história, constrói uma representação de infância diferente, elabora distintas imagens de infância.” (s.n.)
Assim, entende-se que o teatro infantil pode se constituir de duas formas: o teatro infantil por interiorização e o teatro infantil por apropriação. O primeiro diz respeito aos textos dramáticos e espetaculares especificamente escritos e produzidos para o público infantil e o segundo, da mesma forma, refere-se aos espetáculos e textos que embora não tenham sido pensados para os pequenos (tendo em vista suas especificidades) são por eles apropriados.  
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Referências: 

CARNEIRO NETO, Dib.   Um círculo vicioso. Os dez pecados. In: Pecinha é  a vovozinha!. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2003, p.6-19.

SORMANI, Nora Lia.In  O teatro para crianças. Do texto ao palco. Rosário, Argentina, Homo Sapiens, 2004 – Tradução de Sandra Vargas e Luiz André Cherubini.

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