segunda-feira, 20 de agosto de 2012

[Resenha] “2. Importância da Atividade Criadora na Educação.” LOWENFELD, Viktor & BRITTAIN, W. Lambert.

Boa noite amigos! Em véspera de feriado façamos uma viagem no tempo e voltemos ao ano de 1947, ano de publicação da primeira edição do livro Desenvolvimento da Capacidade Criadora, escrito por Viktor Lowenfeld e W. Lambert Brittain. Mas por que voltarmos tão longe? Respondo: porque este livro, assim como seus autores, foram precursores na temática referente a Arte-Educação - particularmente sobre as relações que se estabelecem entre a arte, a criatividade e a formação de indíviduos integrais -  influenciando, ainda hoje, uma diversidade de propostas para o trabalho e o ensino em arte.
Por ocasião da apresentação de  seminário solicitado pela profa. dra. Maria Christina Rizzi, como parte da disciplina História do Ensino da Arte I ministrada na Escola de Artes e Comunicações – ECA USP; deixo a resenha do cap. 2 deste livro.
Uma boa leitura!
Abraços,
Lorena Oliveira
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Resenha
2 Importância da Atividade Criadora na Educação.
Entendendo a produção artística como expressão total dos indivíduos uma vez que ao realizá-la são mobilizadas as mais diversas experiências, a partir das quais comunicam-se preferências de modo único e pessoal; os autores iniciam este capítulo considerando a produção plástica da criança como meio que possibilita compreender as diversas instâncias do desenvolvimento humano.
Deste modo, segue-se a descrição detalhada destas instâncias em suas relações com os processos criativos:
Desenvolvimento emocional
Para os autores “Um desenho pode proporcionar a oportunidade do desenvolvimento emocional, e o grau em que isso é conseguido está em relação direta à intensidade com que o autor se identifica com a sua obra.” (p. 37) Entende-se que a repetição de padrões estereotipados são indicativos de padrões rígidos de ação por parte da criança, assim como de desajustamentos emocionais que levam a evasão proporcionada pela cópia. Assim, “É lamentável que os adultos encorajem, frequentemente, esse modo de expressão, pedindo aos jovens que copiem ou tracem formas vazias de significado, ou até, como poderia fazer um professor de aritmética, pedindo a um menino que copie dez vezes um símbolo para um papagaio de papel.” (p. 37-38)
Desenvolvimento Intelectual
Este vai se tornando perceptível nas representações gráficas na medida em que a criança amplia sua compreensão de si e do ambiente no qual vive salientando-se também sua função comunicativa, particularmente para as crianças que ainda não adquiriram meios verbais de comunicação adequados. Deste modo, pode-se dizer que “(...) o desenvolvimento da capacidade artística processa-se em estrito paralelo com a evolução intelectual da criança (...).” (BURKHART, 1964 apud p.41)
Embora considerem não ser possível que o leigo compreenda a maturação intelectual de uma criança a partir da simples análise de seus desenhos; os autores ressaltam que professores interessados e atentos as produções plásticas das crianças podem construir, ao longo do tempo e da interação com a criança e sua produção; um vasto conhecimento sobre as capacidades intelectuais de seus alunos. “Este fator é muito significativo para compreender as crianças, porquanto não só nos proporciona um meio para percebermos que elas estão desenhando e pintando, desde o mais profundo de seu ser, mas também faculta ao professor vigilante a oportunidade de compreender problemas que pode surgir em outras áreas de expressão.” (p.41)
Tendo em vista a frequência com que a escola valoriza o desenvolvimento intelectual em detrimento ao desenvolvimento afetivo, é importante que haja um equilíbrio entre ambos; consideradas suas especificidades e intersecções.
Desenvolvimento Físico
Nesta instância a capacidade criadora se manifesta através da coordenação visual e motora. Convém ressaltar que embora diga respeito a necessária incorporação física na realização da produção plástica, o desenvolvimento físico também se manifesta nos desenhos infantis a partir de sua representação.
Desenvolvimento Perceptual
Acontece através da progressiva ampliação dos conhecimentos proporcionados pelo estímulo dos sentidos. Nas palavras dos autores, “Isto é de consequência vital, pois a fruição da existência e a capacidade de aprendizagem talvez dependam do significado e da qualidade das experiências sensoriais.” (p.42)
Considerada a multiplicidade de experiências sensoriais as quais os indivíduos estão sujeitos e tendo em vista a especificidade da escola e da função do professor de produtor e mediador nestes espaços de amplas possibilidades; entende-se que o desenvolvimento perceptual contribui para a ampliação significativa das potencialidades artísticas dos alunos.
Desenvolvimento Social
Os autores entendem que o desenvolvimento social é também observável nas produções plásticas infantis na medida em que a criança começa a representar determinadas organizações sociais, ela própria e as relações que estabelece com os outros. Lowenfeld & Brittain acreditam: na potencialidade da arte, da produção artística proposta pelos professores, que esta é uma importante via de interação e desenvolvimento social a partir da execução de projetos coletivos.
De outro modo, diz-se que as aulas de artes são comparáveis ao recreio como únicos espaços em que há a interação direta e a vivência social entre as crianças. Assim, “A arte tem sio frequentemente considerada um meio primordial de comunicação e, como tal, converte-se em expressão mais social do que pessoal.” (p. 44-45) Neste contexto, o estudo e a apreensão das produções artísticas de diversas organizações sociais, permite uma comunicação, de modo a proporcionar o aprofundamento dos conhecimentos referentes as particularidades de um povo.
Desenvolvimento Estético
Sendo controversas as questões que envolvem a definição do termo estética, os autores começam por dizer que “A estética pode ser definida como sendo o meio de organizar o pensamento, a sensibilidade e a percepção, numa expressão que comunica a outrem esses pensamentos e sentimentos.” (p.47) Desta forma, podemos entendê-la, em se tratando das produções artísticas infantis como a capacidade ou forma de organizar suas vivências em um complexo significativo. Construção que para os jovens pode se relacionar ainda com o uso consciente das possibilidades que cada materialidade oferece.
Tendo em vista a especificidade dos processos educacionais os autores propõe a reflexão sobre as relações entre educação e estética ao dizer que
“A educação tem sido considerada o cultivo para transmitir uma forma organizada. Por outros termos, consiste na organização de palavras para realizar a comunicação verbal, na organização de números ou símbolos para desenvolver o pensamento matemático e na organização de imagens para produzir as artes1. Portanto, a educação pode ser encarada como a evolução do comportamento estético.” (p. 48)
Desenvolvimento Criador
Considerando a ainda nascente produção sobre a criatividade, parte-se da ideia de que a criança cria desde as primeiras marcas realizadas quando bebê. Assim, pode-se dizer que este desenvolvimento independe do domínio de certas habilidades técnicas.
Dito isto, os autores nos propõe refletir sobre a especificidade do trabalho e do ensino de artes para crianças e jovens. Diferentemente de outras disciplinas a arte não supõe uma progressão de conteúdos, do mais fácil para o mais difícil, na medida em que as formas de apreensão em relação a realidade variam ao longo do desenvolvimento infantil sendo passíveis de elaboração os mesmos temas em diferentes idades. Entende-se que “A criança transmite sua experiência subjetiva do que é importante para ela no ato de desenhar; unicamente demonstra o que se encontra de forma ativa em sua mente.” (p.53)
Fases do Desenvolvimento na Arte2.
Neuza Chaves_corpohumano_13anos Antonio Oliveira_casa_6anos Felipa Maria_casa_9anos Ines Fraga Sol_casa_4anos Maria Alexandre Goncalves_3anos Marina Correia Ferreira_10anos
Tendo em vista o panorama geral relacionado ao desenvolvimento da capacidade criadora, Lowenfeld & Brittain discutem a diversas fases que compõem o desenvolvimento na arte.
De acordo com eles as crianças pequenas começam a desenhar por volta dos dois anos produzindo rabiscos desordenados no papel aos quais atribui-se o nome de garatujas. Ao longo deste primeiro momento, diversos são os aspectos que constituem as garatujas progredindo gradativamente dos rabiscos desordenados para um maior controle de traços.
Por volta dos quatro anos a criança inicia a fase denominada de Estágio Pré-Esquemático. Nela surgem as primeiras representações, geralmente humanas e dos objetos que fazem parte do cotidiano direto da criança.
Sucedem-se os: Estágio Esquemático, iniciado por volta dos sete anos estende-se até os nove. Ai a criança adquire o sentido da forma procurando construir representações descritivas. O Estágio do Realismo Nascente ocorre dos nove aos doze anos; nele a criança amplia sua capacidade de simbolização, aumentando a minucia de seus trabalhos em detalhes e as representações sociais passam a ser frequentes. O Estágio Pseudonaturalista está profundamente embricado no Estágio do Realismo Nascente uma vez que ocorre entre os onze e os doze anos, sendo sua característica o aumento da autocritica por parte da criança em relação a suas produções.
Conclui-se este ponto dizendo que
“Com efeito, esses estágios do desenvolvimento são bastante uniformes em todas as criança, onde quer que elas se encontrem. Isto é verdadeiro, principalmente nas fases inicias de representação, antes que a cultura da criança influa no seu desenvolvimento artístico. O que ela desenha será diferente, de acordo com o meio onde vive e com o instrumento de desenho que for usado, mas todas as crianças garatujam até cerca dos quatro anos de idade; o primeiro período de representação continuará até os seis, sete anos, independentemente do lugar onde a criança se encontre.” (p.57)
Arte e a Criatividade
Em continuidade a proposta reflexiva sobre o desenvolvimento da capacidade criadora, os autores refletem ainda sobre as relações entre arte e criatividade; sobre a responsabilidade do professor enquanto agente que disponibiliza e estimula a criatividade de seus alunos e ainda sobre o impacto direto que os livros ilustrados e os livros para colorir tem em relação a paralisação e a progressiva diminuição da capacidade criativa das crianças.
Deste modo, considerando “Uma teoria sobre a estrutura do funcionamento intelectual das pessoas supõe a existência de cinco operações diferentes no processo mental: cognição, memória, produção convergente, produção divergente e avaliação.” (Guilford, 1964 apud p.65); os autores relacionam os conteúdos comumente “transmitidos” nas escolas à produção convergente, sendo as aulas de arte importantes locais de exercício e desenvolvimento da produção divergente. Neste sentido, considera-se importante que as crianças desenvolvam, de modo mais complexo possível, sua experiência de realidade; entendendo que por sua condição inerente de elaboração pessoal e única, a produção artística colabora para a construção e a vivência de uma série de possibilidades as quais não se pode atribuir certo ou errado.
Para concluir, ao tratar dos livros de colorir comumente utilizados nas escolas, os autores estabelecem uma crítica a seu uso, uma vez que a medida em que a criança entra em contato com suas formas padronizadas há uma progressiva diminuição do estimulo criativo, fato este que colabora para uma experiência passiva da realidade. A partir dos modelos dados as crianças apreendem a valorização de determinadas formas, ditas corretas, perdendo o impeto de experimentar e produzir por si próprias. Assim, fica a proposta para que o professor amplie a reflexão sobre o uso de determinados materiais, considerando seu objetivo máximo de possibilitar tempos e espaços de formação para a liberdade.
Notas
1“A arte proporciona à criança uma vasta gama de possibilidades, e seu desenvolvimento não está limitado às áreas que foram predeterminadas pelo sistema educacional. As respostas que ela procura e as soluções que descobre são suas, e o desenho, a pintura ou a construção que executa refletem sua crescente capacidade para lidar com uma série diversificada de possibilidades, de ´forma construtiva.” (p.50)
2Em correlação com os períodos do desenvolvimento propostos por Jean Piaget (1959): Período de Adaptações Sensório-Motoras (do nascimento aos dois anos); Período Pré- Operatório (dos dois aos sete anos); Período Operátório Concreto (dos sete aos onze anos); Período Operatório Concreto Formal (a partir dos doze anos).
In Desenvolvimento da Capacidade Criadora. Tradução Álvaro Cabral. Editora Mestre Jou – São Paulo, 1947. (p. 35 - 72) Fonte de Imagens
http://www.companhiadozu.interdinamica.pt/abrantes/zu/x36yk0z.htm acessado em 18 de abril de 2012.














































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