quarta-feira, 24 de outubro de 2012

[resenha] Cap. 1. Objetos transicionais e e fenômenos transicionais. Donald Winnicott.

guarani-kaiowa

Alô visitantes, boa tarde. Dos caminhos que venho seguindo com objetivo de construir um referencial teórico que possibilite e amplie a reflexão e a discussão nas áreas da arte e da educação, em especial à educação de crianças pequenas e bem pequenas, hoje trago alguns apontamentos sobre o primeiro capitulo do livro O Brincar e a Realidade do sr. Donald Winnicott. A partir de suas proposições, construídas no campo da psicánalise é possível vislumbrar o papel fundamental e constituinte da arte e da brincadeira, entendidos como espaços de experiência não contestada que possibilitam aos indivíduos a integração e o equilibrio entre seus mundos internos/ subjetivos e o mundo externo/ objetivamente percebido. Segundo o autor,  “(...) um fenômeno que é universal como o que estou considerando nesse livro, não pode, na realidade, estar fora do campo daqueles cujo interesse é a magia do viver imaginativo e criador.”!

A parte isso e para além das teorias, gostaria de considerar a situação absurda exposta pelos índios Guarani-Kaiowá, apenas para salientar que milhões de considerações estão sendo feitas sobre o assunto no momento, e lembrando o professor Milton Santos e suas ponderações sobre a necessidade/ potencialidade que os novos meios de integração e difusão de informações tem na transformação da nossa sociedade;  é necessário que todos se manifestem contrários aos estados genocidas que vitimam todos os dias os povos que descaradamente roubados foram e são progressivamente destituídos de condições de manter sua vida, dignidade e autonomia. TODO APOIO AOS ÍNDIOS GUARANI-KAIOWÁ! 

Abraços,

Lorena Oliveira

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O brincar e a realidade. 1975.

Apontamentos

Cap. 1. Objetos transicionais e e fenômenos transicionais.

Winnicott principia este capítulo reforçando seu interesse pela análise de bebês e crianças pequenas, e destacando os objetos ou fenômenos transicionais1 como aqueles que “aparecem” ou acontecem no espaço intermediário entre a estimulação da zona erógena oral e a relação com o objeto propriamente dito a partir de sua percepção objetiva. Entendendo que

“De todo indivíduo que chegou ao estádio de ser uma unidade, com uma membrana limitadora e um exterior e um interior, pode-se dizer que existe uma realidade interna para esse indivíduo, um mundo interno que pode ser rico ou pobre, estar em paz ou em guerra.; [o autor elabora a concepção de ilusão2, de modo que, para ele] (…) se existe necessidade desse enunciado duplo, há também a de um triplo: a terceira parte da vida de um ser humano, parte que não podemos ignorar, constitui uma área intermediária de experimentação, para a qual contribuem tanto a realidade interna quanto a vida externa.”(p.15)

Ao tratar do desenvolvimento de padrões individuais Winnicott apresenta a ideia de que os bebês (referindo-se “especialmente' ao período que vai dos 4 aos 12 meses) “elaboram” defesas contra a ansiedade, especialmente a ansiedade de tipo depressivo, constituindo objetos ou fenômenos transicionais. Convém salientar que este objeto ou fenômeno embora“(...) oriundo do exterior, segundo nosso ponto de vista, (…) não o é, segundo o ponto de vista do bebê. Tampouco provém de dentro, não é uma alucinação.” (p.18) E ainda que, para além de uma vivência infantil, “(...) os fenômenos transicionais se torna[ra]m difusos, se espalha[ra]m por todo o território intermediário entre a 'realidade psíquica interna' e o 'mundo externo, tal como percebido por duas pessoas em comum, isto é, por todo o campo cultural.” (p.19) Neste sentido portanto, segundo suas concepções, os objetos ou fenômenos transicionais pertencem ao domínio da ilusão e são a raiz do simbolismo descrevendo a jornada do bebê desde o puramente subjetivo até a percepção objetiva.

Depois de citar exemplos de suas observações clínicas sobre o assunto, Winnicott sinaliza para a ideia de que é necessidade fundamental a existência/presença de uma mãe suficientemente boa para que o bebê consiga concretizar esse transito entre seu mundo subjetivo e o mundo externo objetivamente percebido. Em suas palavras “Não há possibilidade alguma de um bebê progredir do princípio de prazer para o princípio de realidade (…) a menos que exista uma mae suficientemente boa.”(p. 25) Dadas as diversas possibilidades de entendimento desta ideia, define a mãe suficientemente boa (não necessariamente a mãe do bebê) como “(...) aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que diminui gradativamente, segundo a crescente capacidade deste de aquilatar o fracasso da adaptação e em tolerar os resultados da frustração.” (p.28) Dito de outro modo, trata-se de proporcionar ao bebê a ilusão de que seu mundo interno cria mundos externos (a partir da adaptação e satisfação de suas necessidades), constituindo-se então, este “espaço” de transição entre o eu e seu mundo subjetivo e o outro e a realidade objetivamente percebida.

Dito isto, embora Winnicott ainda descreva uma grande extensão de material clínico que utiliza para ilustrar suas proposições; tendo em vista o contexto relacional entre mãe e bebe e a emergência da realidade objetivamente percebida, o autor conclui e ressalta a necessidade de levarmos em conta não somente o papel da ilusão enquanto base da experiência; mas também o da desilusão, ao dizer que

“(...) a principal tarefa da mãe (após proporcionar oportunidade para a ilusão) é a desilusão. (…) e continua sendo uma das missões dos pais e dos educadores. (…) [Deste modo] presume-se aqui que a tarefa de aceitação da realidade nunca é completada, que nenhum ser humano está livre da tensão de relacionar a realidade interna e externa, e que o alivio dessa tensão é proporcionado por uma área intermediária de experiência (cf. Rivieri, 1936) que não é contestada (artes, religião, etc.) (p.29)

Notas

1Salienta-se que estes fenômenos também estão relacionados as cantigas “utilizadas” para embalar o sono dos bebês.

2“Estou, portanto, estudando a substância da ilusão, aquilo que é permitido ao bebê e que, na vida adulta é inerente à arte e à religião, mas que se torna marca distintiva de loucura quando um adulto exige demais da credulidade dos outros.” (p.15)

Referências

WINNICOTT, Donald. O Brincar e a Realidade. 1975.

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