quinta-feira, 19 de abril de 2012

[Resenha] 1. “Formação de Professores: O convite da Arte”. LEITE & OSTETTO.


autoretrato_Van Gogh autoretrao_Ismael Nery autoretrato_Frida Kahlo autoretrato_Tarsila do Amaral
Boa tarde! Hoje trago e deixo a resenha de um artigo bem básico escrito por Luciana E. Ostetto e Maria Isabel Leite publicado no livro Arte, Infância e Formação de Professores: Autoria e Transgressão; organizado por elas em 2004. Parte integrante da Coleção Ágere, se propõe a discutir as aproximações e distanciamentos entre arte e educação. No artigo em específico ressalta-se a superação da condição utilitarista do uso da arte na educação como principal desafio áqueles que se proponham refletir sobre estas áreas e a formação de professores.
Por salientarem a condição autoral da significação que se estabelece na vivência em arte (seja ela a fruição ou a realização) as imagens de hoje contemplam o universo dos auto-retratos e os diversos olhares que podem significar quem somos. Van Gogh, Ismael Nery, Frida Kahlo e Tarsila do Amaral respectivamente.
Uma boa leitura,
Abraços,
Lorena Oliveira
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LEITE, Maria Isabel & OSTETTO, Luciana Esmeralda.
  1. Formação de professores: o convite da arte1.
Neste artigo escrito a duas mãos, as autoras apresentam algumas reflexões a cerca da arte e da sua importância como constituinte dos processos de formação de professores; começando por considerar a problemática que define a arte como essencialmente transgressora enquanto que a educação, é por excelência normatizadora. Desta forma, como propor novas formas para o trabalho docente?
Ao refletir sobre o convite que a arte nos faz para experenciarmos a realidade a partir das diversas linguagens do corpo, as autoras colocam que a arte é totalidade uma vez que permite a elaboração e a resignificação de uma série de polaridades, “(...) diluindo falsas dicotomias entre corpo e mente, ciência e arte, afetividade e cognição, realidade e fantasia.” (p.12) Sendo corrente o uso das linguagens artísticas não como fins em sim, mas como meios para a consecução de diversos objetivos, ressalta-se que justamente por permitir uma elaboração totalizante da realidade, dito de outra forma, um conhecimento artístico-cultural; a mesma não deve ser inserida nas práticas formativas por este viés.
Assim,
“Ao falarmos de arte, neste contexto, falamos da inteireza de ser educador e acrescentamos, aos pólos competência e compromisso, o pólo sensibilidade – que abre caminho para o encantamento, o maravilhamento, ingredientes essenciais para a recriação do cotidiano pessoal e profissional, rompendo com a fôrma, ousando outros desenhos para o dia a dia. Novas paisagens...” (p.12)
Deste modo, tem sido corrente a reformulação dos cursos de pedagogia. Entendendo-os como locais fundamentais de formação dos professores que irão trabalhar nos espaços de educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental, consideradas suas especificidades; tem-se introduzido disciplinas com o objetivo de “(...)trabalhar o movimento, o olhar e a escuta sensíveis do sujeito-professor-em-formação.” (p.13) Diferente de uma “educação através da arte”, entitulada frequentemente arte-educação, cujo objetivo é a transmissão de técnicas artísticas; as autoras propõem o que chamam “educação estética”, onde os objetivos, mais do que conteúdos, dizem respeito a experiências estéticas significativas para os futuros professores.
A seguir são transcritas diferentes experiências com este enfoque, realizadas no Sudeste e no Sul do Brasil de modo a destacar os principais pontos de cada exposição. Tendo em vista os objetivos desta resenha não serão relatados os aspectos práticos e metodológicos utilizados.
Do eu ao outro: Construindo identidades criadoras2
“Do eu, foi-se para o outro, ainda da perspectiva da própria experiência e de ver a possibilidade de construir uma identidade criadora. (…) A fantasia deixava de ser “coisa de criança” para ser de todo ser humano. (…) O objetivo era desestabilizar o estabelecido, desacomodar, esgarçar o tecido necrosado pela mesmice e abrir novos canais, sempre mais e mais. (…) Tudo que fosse diferente daquilo que viam e ouviam cotidianamente, que usasse materiais alternativos. Tudo que não reeditasse a ideia de utilitarismo na arte; tudo que fugisse dos padrões impostos pela mídia televisiva. (…) Instigavam o olhar. Convidavam ao diálogo – esse era o propósito, essa é a função precípua da arte. (…) fechando um ciclo marcado pela ideia de que o conhecimento não se constrói apenas com textos e livros, mas, também, só ganha sentido quando partilhado com o outro, alcançando sua esfera de significação.” (p.14, 15-16)
Encontros com a obra: Ensaios de olhares3
“(...) o simples fato da inclusão de uma disciplina que trazia a arte para conversar com a educação carregava, em si, um ar de mudança e seus objetivos apontavam para o “novo”: a ampliação dos fundamentos essenciais para a formação do professor.
Entre seus objetivos destacam-se: “refletir sobre os significados da arte; possibilitar vivências com diferentes materiais e técnicas de criação, promovendo o resgate e a reflexão sobre tantas formas de expressão possíveis (e tantas vezes esquecidas no adulto!; ampliar a sensibilidade e a percepção para as diferentes linguagens do mundo: a educação do educador”. A chave para o movimento, traduzida nos objetivos, estava na educação do educador, compreendida como um processo de provocação e construção do “sensível olhar-pensante”, no dizer de Miriam Celeste Martins (1996).
(…) Buscamos superar uma proposta, comumente desenvolvida, de fazer com adultos para que façam com as crianças ou fazer com os adultos mostrando “como fazer com as crianças”. É fundamental tocar no repertório do grupo, mexer com outras dimensões que apenas não a cognitiva, racional, científica.” (p. 17, 18-19)
Buscar o próprio brilho: Reinventar o prazer e a beleza de saber e fazer4
“Os encontros foram se desenvolvendo com uma dose imensa de estranhamento. (…) Compreendia-se que muitas vezes o processo de conhecimento vem assim, do estranhamento, mas só se realiza se nos permitirmos viver o estranhamento, viver a experiência, enfim, se nos propusermos a conhecer.” (p.21)
Dito isto e considerando a multiplicidade de propostas formativas que podem ser desenvolvidas com o objetivo de sensibilizar e ampliar o olhar destes futuros educadores, as autoras concluem considerando o rompimento com as ideias e práticas utilitaristas na arte desafio fundamental na execução de novas propostas de formação docente. Para elas “Sensibilizar o movimento, o olhar e a escuta do professor contribuirá, sobretudo, para torná-lo um sujeito mais aberto e plural, mais atento ao outro; ampliará seu repertório e, consequentemente, seu acervo para criação (…) tornando sua prática mais significativa, autoral e criativa.” (p.23)
Notas
1Trabalho apresentado no III Copedi, em Águas de Lindóia (SP), de 28 a 31.05.2003.
2“Essa experiência foi desenvolvida em uma universidade particular no Rio de Janeiro, em que a disciplina antes chamada “arte-educação” foi rebatizada como “educação e manifestações artístico-culturais. As condições de trabalho oferecidas eram bem precárias se levarmos em conta os 30 alunos, o pequeno espaço da sala, a acústica imprópria, a ausência de local para materiais ou exposição de trabalhos, o mobiliário inadequado para as propostas, a falta de livros dessa temática na biblioteca, para enumerar alguns dos problemas enfrentados. O público não tinha nenhuma experiência anterior e a arte era entendida, no primeiro encontro, como “fazer crochê, bordar, copiar, ampliar desenhos, pintar porcelana” etc.” (p.13)
3“Outra experiência que também faz referência a disciplinas de arte no curso de pedagogia deu-se numa universidade pública em Santa Catarina. A disciplina “fundamentos e metodologia de ensino de arte-educação” foi incluída depois da reformulação curricular de 1995, passando a ser uma disciplina da base comum do curso de pedagogia.” (p.17)
4“As linguagens na educação infantil: Saberes e fazeres de educadores”, uma experiência de formação continuada, desenvolvida ao longo de 2001, com um grupo de 30 profissionais da educação infantil – cozinheiras, auxiliares de serviços gerais, professoras, auxiliares de sala e diretora de uma creche pública municipal de Florianópolis.”(p.20)
Referência
In OSTETTO, Luciana Esmeralda. Arte, infância e formação de professores: Autoria e transgressão. Luciana Esmeralda Ostetto, Maria Isabel Leite – Campinas, SP: Papirus, 2004 – (Coleção Ágere). p.11-24
Fonte de imagens: Google.














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