quinta-feira, 11 de abril de 2013

[Resenha] Curiosidade e Imaginação – os caminhos do conhecimento nas Ciências, nas Artes e no Ensino. Maurício Pietrocola.


Alô pessoal! Voando bem rápido deixo a resenha/resumo de um artigo escrito pelo prof. Mauricio Pietrocola, docente da disciplina Metodologia de Ciências na Faculdade de Educação da USP. Leve e de fácil compreensão o autor propõe refletirmos (como alguns outros textos postados aqui) sobre os encontros e desencontros entre arte, ciência e educação. 
Outra coisa (breve por conta do tempo) que absurdo é este de impor o ensino obrigatório para crianças a partir de 4 anos? Sim, sim, antes de os críticos deturpadores de argumentos (ou sem eles mesmo) começarem a rosnar eu explico: deve parecer evidente pela lógica deste blog a minha concordância e a bandeira que defendo em favor da educação pública e de qualidade para as crianças pequenas e bem pequenas mas... não a todo custo. Do que adianta obrigar os pequenos a estarem em espaços de escolarização (e não culturais ou lúdicos) sem estrutura, sem materiais, sem educadores formados para respeitar as especificidades da primeira infância? Ou, justamente ao contrário, formados para cortar desde a raiz movimentos próprios, lúdicos, imaginativos, críticos, criativos, artísticos e tantos possíveis em favor da alfabetização precoce? Respondo: pode até ser que adiante...apenas em favor da manutenção do estado triste de coisas em que as crianças pequenas são impedidas de vivenciarem sua infância, tornando-se adultos inseguros, submissos e individualistas. Este será nosso futuro?

Abraços,

Lorena Oliveira 

  
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Resenha/resumo 

Pietrocola, Maurício. 

Curiosidade e Imaginaçao – os caminhos do conhecimento nas Ciências, nas Artes e no Ensino.

Partindo de sua experiência pessoal, no que se refere às primeiras vivências e os primeiros encantos despertados pela educação científica, em texto publicado em 2004 no livro Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática; Mauricio Pietrocola pretende resgatar/reabilitar a prática científica em seus aspectos prazerosos enquanto produção do conhecimento, a partir das possíveis relações que se estabelecem entre arte e ciência.
O autor principia por descrever suas experiências nas aulas de ciências desde a quinta série, quando teve seu primeiro encontro com o prazer proporcionado pelo conhecimento ao ser apresentado à átomos e moléculas, até o colegial quando encontrou-se com a física e sua forma própria de conhecimento da realidade. Ressalta-se que estes períodos de prazer e alegria foram intercalados com momentos de desmotivação e apatia, quando as aulas passaram a ser ministradas sem conexão com a realidade próxima aos alunos, tornando-se apenas mais uma das obrigatoriedades para se passar de ano no colégio. Tendo seguido a carreira de educador ligado a área científica, com objetivo de compreender o que permite a frequência das relações prazerosas nas aulas de arte em contraponto a tendência que as aulas de ciências demonstram em proporcionar momentos prazerosos em relação a produção do conhecimento intensos, porém, esporádicos; Pietrocola nos convida a refletir sobre a forma como as ciências tem sido ensinadas nas escolas, tomando por base as possíveis relações que se estabelecem entre ela e as artes. 
Partindo de uma afirmação de Herbet Read no que se refere a diferenciação das áreas da arte e da ciência; o autor destaca a condição errônea do entendimento dicotômico que coloca a arte como “forma de expressão” enquanto a ciência seria uma “forma de explicação”. Em suas palavras, 

“Representar e explicar são aspectos bem marcantes das artes e das ciências. No entanto, essas diferenças não nos autorizam a colocar arte e ciências em domínios opostos do fazer humano, como poderia sugerir essa explanação preliminar. Pois a ciência também representa e a arte, a sua maneira, pode explicar. (…) A bem da verdade, existem inúmeras formas de conhecer. A ciência é [somente] aquela que melhor explora o poder da razão.” (p.3-4)

Assim, Pietrocola propõe refletirmos sobre a particularidade dos métodos empregados tanto por artistas quanto por cientistas. Segundo sua exposição, os primeiros são “livres” em relação a suas produções uma vez que não estão atrelados a nenhuma obrigatoriedade quanto ao significado que pretendem expressar em suas elaborações e o significado a elas atribuídos por aqueles que o acessam. Os segundos, por sua vez, estão atrelados e buscam o entendimento partilhado pela comunidade científica em suas representações e hipóteses explicativas.  Ressalte-se, novamente, que não se pretende a elaboração de juízos valorativos quanto as especificidades de cada uma das áreas, pelo contrário, entende-se que “ (...)Tanto uma pintura como uma lei física não se limitam a seus aspectos denotativos. Talvez decorra daí a dificuldade em se entendê-las. Atingir um estado de compreensão das coisas para além do imediato está na base da ciência e da arte.” (p.7) 
De acordo com o autor, este “para além do imediato” refere-se a capacidade/necessidade, cateterística fundamental do cientista e do artista, a imaginação. Em suas palavras

 “(...)Elétrons, Campos, forças, células, genes e muitas outros conceitos da ciência são antes de mais nada livres criações da imaginação humana. Através deles penetramos o interior da matéria, dos seres vivos, do Universo. A imaginação é o veiculo responsável por nos remeter a esses mundos, que de outra forma, ser-nos-iam inacessíveis. [Salientando-se que] (…) De maneira geral, a imaginação pode ser entendida como “a capacidade humana de criar imagens no espírito e de as utilizar para construir situações imaginárias" (Bronowski 1983, pag 33). Não há nada mais humano que o pensamento criativo. A capacidade de produzir idéias para representar e explicar o mundo tem garantido nossa sobrevivência nas mais diversas condições e garantido a permitido evolução da espécie humana. Se tivéssemos que eleger uma única característica para nos diferenciar dos demais seres vivos, talvez fosse a imaginação e não a racionalidade a que melhor cumprisse tal tarefa.” (p.9)
Segundo o autor, a imaginação se manifesta cedo nos indivíduos, a medida em que a criança passa a criar imagens mentais para representar objetos ausentes, vai ampliando sua capacidade de relacionamento com a realidade para além da percepção imediata de seus sentidos. Pode-se dizer que assim, a criança e os indivíduos em geral, percebem e desenvolvem o prazer proporcionado pelo ato da criação. Entende-se que tanto artística, quanto cientificamente, o prazer da criação está diretamente atrelado a capacidade imaginativa dos seres humanos. 
Dito isto e para concluir, como conceber o ensino de ciências de forma utilitarista, morta, repetitiva e pouco relacionável com a realidade dos alunos? Para Pietrocola 

“A atividades científicas tornam-se interessantes e instigadoras quando são capazes de excitar nossa curiosidade. Através da imaginação, o pensamento passa a apreender o desconhecido buscando uma explicação para os enigmas. A curiosidade serve de fio condutor para as atividades, que de outra forma passam a ser burocráticas e exercidas com o propósito de cumprir obrigações. [Assim] (…) A criação científica deve ser perseguida ao longo de toda educação, e isso é impossível sem o engajamento ativo do sujeito. As aula de ciências devem ser ocasião para se retraçar os passos, para se reviveras emoções e sentimentos associadas aos atos de criação. Muito da fobia às ciências nas escolas advém do fato da criação ter sido substituídas nas aulas pela memorização. Sem a criação não há emoções e resta apenas o arcabouço formal das atividades de ensino.” (p.12-13)
 
Fontes: 

As imagens que ilustram a postagem de hoje são do Carlos Gomes de Portugal e estão disponíveis  no blog wonderfulllworld . De autoria própria, o blog agrega reflexões interessantes e assim como ele partilho da ideia de pensarmos sobre as coisas boas da vida. 



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