segunda-feira, 20 de agosto de 2012

[Resenha] Cap. “A estética como marca da cultura.” VIEIRA & GOZZI.

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Boa noite amigos. Para hoje, continuemos conhecendo e refletindo sobre as práticas de espaços de educação infantil. A estética como marca da cultura. é um dos capítulos que compõem o livro O dia a dia das creches e pré-escolas: crônicas brasileiras. e tem por objetivo apresentar e refletir sobre as práticas propostas e realizadas nas creches da Universidade de São Paulo – USP. Entendendo a arte como um dos fundamentos da Educação Infantil, as autoras discutem a estética como forma de conhecimento inerente a vida humana.
De leitura simples o texto é rico em imagens e exemplos.
Para  ilustrar esta postagem “fui escolhida” pelos trabalhos do artista carioca Ivan Cruz que muito bem ilustram o universo infantil. Merecido destaque pela temática e forma de abordagem, retratam, em sua grande maioria, as brincadeiras infantis.
Abraços e coisas boas,
Lorena Oliveira
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VIEIRA, FLAVIANA R. e GOZZI, ROSE M. A ESTÉTICA COMO MARCA DA CULTURA. In MELLO, Ana M... (et al.) O dia a dia das creches e pré-escolas: crônicas brasileiras. Porto Alegre: Artmed, 2010. (p. 101- 116)
Resenha
... propiciar diferentes experiências e promover a exploração dos sentidos, aguçados com a escolha dos materiais, meios e suportes, que permitam o processo de criação.
A partir dessas experiências é possível dar forma ao mundo. (…) Para olhar as coisas empregamos todo o nosso corpo, que passa a ser o sujeito da experiência.” (p.111)
Este capítulo foi elaborado com intuito de apresentar as diferentes experiências realizadas nas creches da USP, compreendendo a estética como elaboração que ocorre interruptamente ao longo da vida e se dilui no cotidiano dos indivíduos.
Dados os diversos entendimentos quanto ao significado do termo estética, as autoras iniciam seu texto explicando que
“(...) há um, em especial, que poderia ser melhor atribuído a este capítulo, refere-se ao termo aesthesis – com raiz semântica grega e que designa a estética como conhecimento pelos sentidos. [afirmando que] (…) Todos nós temos uma visão estética do mundo, construída e influenciada por nossa realidade cultural, pelas crenças, costumes, valores morais e éticos.” (p. 102)
Em termos práticos, dizemos do conhecimento pré-racional que ocorre ao longo de nossas vivências, e se apresenta como matéria para a elaboração racional a partir de nossos corpos. Como dito, trata-se de um conhecimento que ocorre ao mesmo tempo que a vivência, deste modo, qual enfoque é dado ao desenvolvimento/ ampliação estética das crianças pequenas e pequenininhas, cujas formas de apreender o mundo já são, por natureza, seus sentidos; nos espaços de educação infantil?
Como forma de responder esta questão, as autoras, destacam o planejamento e a sugestão por parte de professores e demais membros da escola, de espaços e tempos que possibilitem a ocorrência e a ampliação das experiências estéticas das crianças. Espaços e tempos que proporcionem e privilegiem vivências táteis, sonoras, olfativas, visuais e gustativas de modo amplo e variado.
“Acreditam as autoras que, 'desta forma contribuiremos para a interação da criança, que é o espectador de um esspaço coletivo, com a obra, que é o material pensado para compor o ambiente. Assim, introduziremos na instituição oportunidades para que as crianças possam interagir sensorialmente, perceber o material e utilizá-lo de acordo com as suas vontades e expectativas, gerando, como comenta Ligia Clark, a energia criativa.” (MELLO, Ana Maria & NATACHA, Érica. 2005 apud VIEIRA & GOZZI, p. 103)
Referindo-se a possibilidade de elaboração de espaços e tempos que privilegiem a leitura sensorial do ambiente, as autoras citam uma série de exemplos1 de espaços, que dentro das creches da USP, foram elaborados com este objetivo. Ressalta-se ainda, a importância destes serem elaborados concebendo a criança como um todo, corpo que apreende, se movimenta e “absorve” o cotidiano de diversas formas.
Sendo a arte, forma de conhecimento e elaboração da realidade, cuja premissa inerente a si da conta da elaboração formal de percepções sensoriais, manifestas através da cor, da luz, do movimento, do som, etc; há que se considerar sua condição enquanto fundamento da educação nos espaços infantis. Em relação a arte contemporânea, salienta-se sua condição enquanto produtora de uma estética voltada a ampliação da percepção através da potencialidade dos sentidos ao dizerem que “A arte de hoje promove o deslocamento de objetos já prontos para um contexto de fruição estética, (…) oferecendo a possibilidade de o visitante se apropriar dos sentidos elaborados no contato com as produções artísticas.” (p.108)
Outro aspecto da prática profissional em espaços de educação infantil, ao qual se da relevância no texto é o processo de documentação das produções ocorridas nestes espaços-tempos de experiências estéticas. De acordo com as autoras, em referência ao pensamento do educador italiano Loris Malaguzzi, a documentação
“Ao mesmo tempo que propicia o acervo da instituição educativa, mostra uma produção estética tecida por centenas de mãos pequenas e grandes. Assim, (…) a instituição terá registros concretos que servirão de referência as educadoras. (…) à divulgação do trabalho e à possibilidade de crianças e educadores darem visibilidade para todas as ações educativas que ocorrem durante todo ano letivo (...)” (p. 108-109)
Retomando o objetivo do capítulo, qual seja o de refletir sobre a estética como marca da cultura e apresentar as experiências desenvolvidas nas creches da USP; as autoras citam ainda uma série de exemplos e proposições voltadas para o desenvolvimento e ampliação dos conhecimentos estéticos infantis. Salientando a arte como campo de conhecimento no qual se articulam uma infinidade de opções formais, as autoras afirmam que “Neste contexto, consideramos as artes como um meio de desenvolver todas as formas de linguagem da criança.” (p.113)
Dito isto, embora discordemos da ideia veiculada quando se diz ser a arte “meio” para um fim; concordamos com a proposta de que esta deve integrar de forma fundante o trabalho nos espaços de educação infantil; bem como, deve estar presente durante os processos formativos dos profissionais que trabalharão neste nível de ensino. O desenvolvimento e a ampliação da capacidade de atribuir forma e significado a realidade deve ser constantemente considerado, uma vez que as experiências estéticas são constitutivas da vida e portanto passíveis de reflexão.
Para concluir deixemos a seguinte reflexão:
“Para isso, há a necessidade de abrir as portas e janelas das instituições e apreciar os pingos de chuva respingando no pátio, o vapor do ar marcado nas vidraças, as folhagens e pétalas caídas no jardim, o encontro da terra e da água que, juntas, se transformam no barro.” (p. 113)
 
Notas:
1“Canto de leitura sensorial tátil” construído com materiais diversos como luvas de borracha preenchidas com areia, raspas de isopor, pedras, etc.; ou tecidos diversos dispostos de modo a proporcionar a interação das crianças com a diversidade das materialidades.













2 comentários:

  1. "Universo infantil"... Uma infância sem rosto?... E esse brinquedo, claramente fálico, do menino (primeiro desenho, à esquerda). Merece uma reflexão...

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    1. Agradeço a sugestão mas saliento que minha leitura de mundo não foi construída com base na escola de pensamento fundada pelo senhor Freud, ou por uma leitura equivocada de seus escritos. Ao escolher as obras de Ivan Cruz para dialogar com esta postagem pensei justamente na potencialidade de interpretação e reconhecimento proporcionada pelo fato de não haver uma delimitação formal de rostos, idades e etnias.

      Abraços,

      Lorena Oliveira

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