19 de setembro de 2010 - Bebê é encontrado abandonado em sacola em MG
28 de setembro de 2010 - Recém-nascido é abandonado em terreno baldio no DF
9 de outubro de 2010 - Bebê é abandonado em casa vazia em Jaboticabal (SP)
28 de novembro de 2010 - Recém-nascido abandonado é encontrado em Higienópolis (SP)
24 de dezembro de 2010 - Recém-nascido é abandonado pela mãe e sobrevive a queda em Belém (PA)
21 de março de 2011 - Bebê é abandonado em caixa de sapatos em Maceió (AL)
13 de abril de 2011 - Recém-nascido é abandonado na zona leste de São Paulo
18 de abril de 2011 - Caso Praia Grande: bebê abandonado em caçamba de lixo
22 de abril de 2011 - Recém-nascido é abandonado debaixo de árvore no RS
26 de abril de 2011 - Recém-nascido é abandonado em quintal em SP
27 de abril de 2011 - Bebê é abandonado em lixo de hospital em Jundiaí (SP)
29 de abril de 2011 - Bebê é encontrado morto dentro de saco plástico em SP
26 de julho de 2011 – Bebê abandonado em saco de lixo ainda com cordão umbilical em SP
Fonte: Uol Notícias.
Muitas são as sensações e as emoções experenciadas ao pararmos para refletir sobre o exposto acima. Indignados e raivosos bradamos contra mães que tiveram a coragem ou o disparate de abandonar seus filhos nas mais degradantes situações. Com medo e tristeza pensamos em para onde, para que tipo de futuro estamos nos encaminhando. Sufocados até, quando nos damos conta de que estas são apenas uma pequena parte da enorme quantidade de atrocidades que acontecem diariamente pelo mundo.
Em sua dissertação de mestrado Margarita Maria Cardozo Gómez (1994) discute a idéia de infância construída ao longo da história, desde a primitividade até fins da idade moderna. Diz a autora que: “… a concepção de infância foi indiferenciada e confundida com a do adulto (…) até fins do século XVIII. Nessa fase o desconhecimento das características próprias da crianças era patente, encontrando-se uma relação que tinha no adulto um único modelo a ser seguido.” (p.2)
É, é curioso e talvez até assustador pensar que a “categoria” ou a diferenciação entre adultos e crianças seja algo relativamente novo em nossa sociedade. De fato, sendo até pouco tempo parte de uma sociedade indiferenciada, só recentemente a criança alcançou o estatus de sujeito específico, dotado de direitos e deveres por parte da sociedade e de seus guardiões.
Pensar em primitividade ou mesmo na Idade Antiga pressupõe considerar condições de vida e organização social bastante distintas das atuais. Embora não seja muito fácil (àqueles defensores da infância) imaginar crianças e adultos sendo tratados da mesma forma em condições as mais adversas, seria anacrônico de nossa parte agir de outra forma. No entanto, como conceber, compreender e aceitar o abandono e o infanticídio em dias atuais?
“Entende-se por infanticídio o desejo e/ou necessidade de matar as crianças. Esta era uma prática normal permitida por lei e aprovada socialmente na Antiguidade. (…) De acordo com Ariés (1981: 10), ‘ a criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato’, dai que sua morte não importava…” (grifo meu – p.63)
Diversos são os motivos (apontados pelos ditos especialistas) para justificar tal situação das coisas: famílias desestruturadas; mães vitimas de violência na infância ou abuso de drogas, falta de condições financeiras etc. Não discordo que tais condições de fato não contribuiam para o nascimento e o desenvolvimernto integral de uma criança (com especial destaque para o abuso de drogas - mais especificamente o crack). Sendo não a imensa quantidade de motivos mas sim a completa ausência de qualquer tipo de política pública o que mais me revolta nesta situação e o que motiva esta breve reflexão.
De minha parte, acredito que somente quando houver a descriminalização do aborto; quando mães e famílias forem respeitadas em seu direito aos serviços públicos de qualidade; quando houver efetivamente atendimento psicológico àqueles que dele necessitarem ou um sistema nacional decente para adoção; não seremos mais estraçalhados ao virmos tais manchetes estampadas em jornais. O que farão os senhores deputados, vereadores, senadores, ministros e governantes por este país? O que farão por aqueles que ainda não tem voz? Por aqueles que ainda não podem reunir-se e manifestar-se? Por que quando o forem (se lá chegarem) provavelmente já será tarde demais? É, é URGENTE!
São frequentes as perguntas: Lorena você é masoquista? Gosta de sofrer? Por que lê e se interessa por notícias tão tristes? As quais respondo: Não, não sou masoquista, não gosto de sofrer. É com tristeza e com uma vontade imensa de trazer notícias diferentes das descritas acima que aqui me exponho. Mas da mesma forma que olho para minha filha e meu coração se enche de desejos bons para o seu futuro, não posso deixar de desejar o mesmo para todos os pequenos e pequenas; em especial aqueles que já começaram de forma tão torta. Tal qual o título deste artigo, pergunto: por onde vai a infância em nosso país?
Abraços de coisas boas
Lorena Oliveira
Obs:Na área educacional é somente após a Constituição Federal de 1988, resultado de lutas de diversos movimentos sociais, que a criança é reconhecida como portadora de direitos. Condição ratificada pela promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases n°9394 de 1996.
Bibliografia
Goméz, Maria Margarita Cardozo. A prática histórica no processo de constituição de diferentes concepções de infância: de estados primitivos até a modernidade. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. 1994.
Este trabalho está disponível para consulta virtual no Banco de Teses e Dissertações da UNICAMP.
Gostei da ideia do seu blog, Lo, a maternidade lhe trouxe um up nas ideias e pensamentos que eu ainda acho vai virar livro, rsrsrsrs...
ResponderExcluirCoincidência ou não, por estes dias discutia em família sobre as possibilidades/escolhas que uma jovem solteira tem ao engravidar. Uma jovem porque para os rapazes, ainda, nesta nossa sociedade dita contemporânea, querer tornar-se pai é a escolha por si só e nem sempre (nem sempre, vejam bem) quer dizer alguma coisa, enquanto que para a moça, como o corpo se modifica, ela precisa de imediato ter uma atitude e, pessoalmente, no Brasil, acredito que seus caminhos se iniciam no "Fodeu" - "Fodeu, mas vou ter o bebê e encarar!!!" ou "Fodeu e não quero ter o bebê, o que eu vou fazer???"
De fato, nas duas situações só nos deparamos com discussões moralistas e de discursos politicamente corretos, mas Soluções para viabilizar uma ou outra escolha, zero!!! E pensando um pouco na discussão que você propõe aqui no blog, Lorena, no caso, de não se pensar no sujeito bebê, mas no assujeitado bebê,(porque, na maioria das vezes, esse moralismo ou o politicamente correto servem apenas para garantir o nascimento dessas crianças, mas não a qualidade de sua vida e nem mesmo a garantia de seus direitos enquanto sujeitos), fico pensando nessa 1a situação, onde a moça resolve "assumir" essa maternidade, mas quando não está pronta para isso e não tem espaço, nem com quem conversar à respeito, infelizmente seu "despreparo" recai sobre a criança e das mais variadas formas, sejam, física, psíquica, psicológica ou sociológica. Para estas crianças, pouco se pensa e pouco se faz também, né?
Beijo grande, Raquel