terça-feira, 9 de outubro de 2012

[Resenha] Linguagens na Educação Infantil – Coisas desimportantes de transver o mundo. Ligia Maria Leão de Aquino.

frida kahlod    Bom dia aos que estiverem ou passarem por aqui. Ando meio sumida deste espaço, ainda procurando o “algo” que falta em minhas pesquisas. Por hora trago a resenha de um texto ao qual tive acesso em um curso que realizei junto a faculdade de educação da USP, entitulado A Formação Lúdica do Educador. Nele a autora tece reflexões a cerca das diversas linguagens que DEVEM constituir o planejamento e as ações realizadas em espaços de educação infantil. As imagens que ilustram esta postagem são da artista plástica mexicana Frida Kahlo e estão aqui por estarem muito próximas de mim nas últimas semanas, pelas cores e em especial por aludirem a fusão de aspectos humanoculturais a natureza e seus diversos elementos. A busca do “paradigma perdido” (conforme Edgar Morin) continua.

Abraços,frida kahloafrida kahlob

Lorena Oliveira frida kahloc

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Resenha

A autora inicia sua comunicação tratando da recorrência com que o termo linguagem aparece nos diversos contextos que se ligam aos espaços de educação infantil, sem que, no entanto, haja homogeneidade em relação a seu significado. Ao citar o poema de Loris Malaguzzi intitulado “As cem linguagens da criança”, referimo-nos a uma pluralidade de linguagens que dizem respeito a especificidade do ser criança; já em sua ocorrência no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) publicado pelo Ministério da Educação brasileiro em 1998, só se reconhecem como linguagens a oral e a escrita cujos objetivos sejam a alfabetização. Tendo em vista os escritos de Walter Benjamim a autora nos diz que “Esse caráter instrumental e pragmático foi denominado por Benjamin de “concepção burguesa da linguagem”, a qual desconsidera que comunica-se na linguagem e não pela linguagem (Benjamin, 1992 apud Ferreira, 1998).” (p.2) Dito isto, Ligia AQUINO, parte de sua formação como pedagoga, professora de crianças pequenas e de adultos em formação buscando estabelecer um diálogo entre estas e a comunicação.

Começando por definir seu entendimento do termo linguagem, a autora nos diz que

“Mesmo reconhecendo a tensão existente sobre a possibilidade de considerar como linguagem sistemas de signos1 que não tenham a palavra como referência, adoto o uso do termo no plural, concebendo que nós humanos somos sujeitos de múltiplas linguagens e que toda linguagem, usada na comunicação, se define como sistema de signos que visa representar a realidade (Japiassu e Marcondes, 1990, p. 152).” (idem)

Ampliando a discussão, com base em outros autores, chega-se a conclusão que o termo linguagem abrange uma diversidade de possibilidades comunicativas; aqui, com especial enfoque para aquelas relativas a apropriação e a construção de subjetividades por parte das crianças, tendo em vista a especificidade de suas formas de relacionamento com o mundo. Diz a autora que

“Complementar ao conceito de linguagem para além do caráter verbal, Chalhub (2009) lembra que a psicanálise revelou não só o inconsciente, mas que este se organiza como linguagem, sendo estruturada em tom poético2.”(p.4) [e ainda que] “Chauí (1990) explica que a linguagem, como “uma dimensão de nossa existência” (p.151), é atividade de criação, interpretação e decifração de significados e que pode ser feita “miticamente ou logicamente, magicamente ou racionalmente, simbolicamente ou conceitualmente.” (p.151).” (p. 5)

Neste contexto, ao compreendermos as artes3 como linguagens, estamos tratando de sua condição de construção que comunica subjetividades de modo poético4 e não apenas como expressão de sentimentos e pensamentos de seu autor; assumindo papel crucial na experiência humana. Ao salientar a educação infantil como direito das crianças pequenas e bem pequenas, assim como, o importante papel que as linguagens simbólicas próprias à arte desempenham no desenvolvimento dos indivíduos, tendo em vista seu caráter formador e construtor de novas realidades; propõe-se que a vivência ampliada das linguagens nestes espaços faça parte de projetos e práticas que pretendam a formação integral dos seres humanos.

Neste sentido, a autora também inclui a brincadeira entre as linguagens simbólicas ao dizer que esta “(…) integra experiências da corporeidade, da cognição e da emoção” e “atua como expressão e forma de significação do mundo”, como afirma Levino Carvalho (2008: 7).”(p.7)

Dito isto, vale a pena ressaltar que a brincadeira a qual se refere a autora, não diz respeito a imposição de um padrão culto estipulado pela elite e que sua ocorrência esta intimamente ligada ao ambiente cultural e material no qual as crianças vivem. Da mesma forma que a vivência em arte, longe de objeto sacralizado e imposto por uma classe dominante, deve ter haver com suas potencialidades enquanto espaço de imaginação e criação geradora de novas realidades. Em suas palavras

“ (…) além de acesso aos clássicos e às artes e seus produtos valorizados pela cultura dominante, o que é também um direito de todas as camadas sociais, é preciso estar atento no sentido de garantir condição autoral à criança, promovendo uma educação que oportunize às crianças se constituírem como sujeitos de linguagens de fato, capazes de produzirem significados e de não se conformarem a modelos de dominação e alienação.”(p.8)

Ao tratar das manifestações culturais e artísticas populares em nosso país, ressalta-se sua potencialidade de vivência integrada e integradora. Integrada porque frequentemente, festividades e folguedos, constituem-se a partir de uma multiplicidade de linguagens como a música, a dança, o artesanato, etc.; e integradoras pela condição de reunir crianças e jovens, adultos e velhos, em um mesmo espaço de vivência e celebração.

Para concluir, a autora retoma a importante necessidade de se incluirem as experiências originárias das diversas linguagens simbólicas do homem nos espaços de educação infantil, de modo que estas possibilitem e ampliem as vivências infantis, tendo em vista a valorização das culturas populares e a negação da lógica adultocêntrica para a qual só se valorizam as aquisições escolares particularmente aquelas relacionadas a aprendizagem da linguagem escrita.

Notas

1 Ling Entidade semiológica que substitui o objeto a conhecer, representando-o aos indivíduos e apresentando-lhes em lugar do objeto. Dic. Michaellis.

2Para a autora: “Qualquer sistema de sinal, no sentido de sua organização, pode carregar em si a concentração poética, ainda que não predominantemente. Uma foto pode estar contaminada de traços poéticos, uma roupa pode coordenar, na sua montagem sintagmática, o equilíbrio de cor, corte e textura do tecido, um prato de comida pode desenhar, sensualmente, a forma e cheiro do cardápio, uma arquitetura pode exibir relações de sentido entre o espaço e a construção, a prosa pode aspirar a poeticidade... mas na poesia, [...] ela é fundante e fundamental [...].” (Chalhub, 2009: 34).” (p.4)

3 “Pedro Garcia (2006), em seu artigo Imaginário e Educação, recorre a Nietzsche, para dizer que “[...] só a arte tem o poder de produzir representações da existência que nos possibilitam viver. São estas representações – terreno fértil para a criação artística – que, passando pelos imaginários individual e coletivo, possibilitam-nos reinventar o mundo. De forma ainda mais radical, ele [Nietzsche] dirá que o conhecimento mata a atuação e que, para atuar, é necessário estar velado pela ilusão.” (p. 143).

4 “A função poética presente nas linguagens simbólicas (artes) está associada à imaginação, que segundo Bachelard (1990 apud Garcia, 2006) é “[...] a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo, a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens. Se não há mudanças de imagens, união inesperada das imagens, não há imaginação, não há ação imaginante.” (p. 141). Bachelard prossegue afirmando que a imaginação, graças ao imaginário, possibilita a experiência da abertura e da novidade. A imaginação é a própria existência humana e não um estado dessa existência (Bachelard, 1990 apud Garcia, 2006).”(p.6)

Referências

O texto esteve disponível em uma plataforma virtual. Não sei se é possível encontrá-lo em outro lugar.

Google Imagens

Para assistir: Ótima série sobre a História da Arte Universal disponível no Youtube. Eis o link para o primeiro capítulo

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