sexta-feira, 11 de maio de 2012

[Resenha] Educação & Estética. Cap. I e II. PERRISÉ, Gabriel.

Boa noite amigos! Dando continuidade as reflexões em relação a arte e a formação de professores deixo resenhados os dois primeiros capítulos do livro Educação & Estética de Gabriel Perissé. Neles o autor introduz e discute os conceitos de estética e as relações entre arte, filosofia e educação; fundamentando e ampliando o arcabouço teórico na área. Para os interessados de plantão recomendo a leitura do livro todo.
As imagens de hoje compõem a chamada Street Art e foram escolhidas somente para reforçar a potencialidade que a arte tem de nos fazer olhar a realidade com outros olhos.
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Abraços de coisas boas,
Lorena Oliveira
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PERISSÉ, Gabriel.
[LIVRO] Educação & Estética
Resenha.
(...) nós, professores, carecemos de experiências estéticas significativas, pois nossa formação para a beleza, para a arte, para a criação é deficiente. Daí que, em consequência, seja deficiente, nesse aspecto, nossa prática educativa.” (LAUAND, p.7)
Cap. I Estética: sua natureza e seu objeto
Gabriel Perissé inicia este trabalho lançando-se a difícil tarefa de definir o que seja e qual o seu entendimento relativo ao significado do termo estética. Após consulta de extensa bibliografia sobre o tema, começa por destacar as meditações filosóficas de Alexander Baumgarten (1714-1762), considerado o criador da Estética como disciplina científica;
'Nessas meditações filosóficas a cerca da poesia, o jovem autor, influenciado pelo pelo pensamento de Gottfried Leibniz (1646-1716) e Christian Wolf (1679-1754), relembra que os antigos gregos e os padres da igreja haviam estabelecido a diferença entre “coisas percebidas pelos sentidos” (aistheta) e “coisas conhecidas pela inteligência” (noeta), entre realidades acessiveis aos sentidos e as realidades noéticas. As realidades noéticas estão sobre responsabilidade da lógica, ao passo que as realidades sensíveis seriam objeto de uma “lógica inferior”, uma “gnoseologia inferior”, uma ciência da percepção, ou “estética”.” (p.11)
Para Baumgarten “(...) a finalidade da Estética é levar (elevar) para o reino das ideias claras (não esqueçamos que o autor é representante típico do seu século, o das Luzes) as sensações confusas e obscuras que experimentamos diante da poesia e da arte em geral.” (p.11)
No entanto, embora se atribua ao século XVIII o surgimento da Estética como disciplina científica, esta, assim como arte, já vinham sendo objetos de estudo e reflexão desde a antiguidade clássica grega.
Nas primeiras discussões propostas por Platão, a arte (particularmente aquela relacionada a produção poética) é entendida como conjunto de técnicas empregadas nas mais diversas áreas da vida social; sendo considerada a prática artística, tal qual a conhecemos, ou do poeta como intermeio entre os homens e a obra dos deuses. Deste modo, artistas e poetas
“Submetidos à divina inspiração, dela dependentes não fazem o que querem. Cada qual é escolhido pelos deuses e pelas musas para determinados gêneros poéticos. (…) E assim, deuses e musas indicam aos humanos que poetas e rapsodos são instrumentos, tal como os adivinhos e profetas. São auxiliares, são intérpretes (...)” (p.16)
Em A República, ao direcionar suas reflexões para o estabelecimento das bases filosóficas de uma nova organização social, o autor passará a conceber a arte e a produção poética como necessárias a vida do homem desde que, segundo a ética, colaborassem na instrução dos cidadãos fundadores de um novo ideal de Estado. Platão chega a negar determinadas produções poéticas, por mais belas que fossem (e por mais lhe causassem dor no fazê-lo), por não seguirem os “canones” do que poderiamos chamar uma poesia ético-pedagogica. De acordo com ele, quanto mais belas fossem estas produções, maiores as suas potencialidades para gerar ideias contrárias em seu ideal; conquanto tratassem de assuntos não considerados pertinentes a construção e a realização de suas propostas. De acordo com PERISSÉ
“O objetivo agora é fundar um Estado ideal, o mais perfeito possível, em que os cidadãos, desde a infância, sejam educados para buscar a verdade , praticar o bem e contemplar a beleza. A poesia deve adequar-se a essa grandiosa meta-político-pedagógica. (...)” (p.18)
Dito isto, dando continuidade ao objetivo deste primeiro capítulo de apresentar os diversos sentidos atribuídos ou relacionados ao termo Estética ao longo da história, o autor faz referência as reflexões propostas pelos chamados teóricos da Idade Média; relacionando-se de forma direta a produção filosófica construída pelo cristianismo. “Agostinho de Hipona (354-430), Francisco de Assis (1182 – 1226) e Tomás de Aquino (1225 – 1274) são três figuras representativas do cristianismo. De seus tetos podemos extrair o esboço de uma estética cristã.” (p.20) De acordo com estes autores a beleza é inerente a vida e emana da manifestação divina da obra criadora de Deus. Entende-se que por ser o homem criado “ a imagem e semelhança de Deus” a beleza não se encontra nos objetos externos a ele mas sim em seu interior. À beleza da natureza são atribuídos significado e valor, de modo que “Deus é simultaneamente Suma Beleza e Sumo Artista (com um componente pessoal que não havia em Platão e Aristóteles). À medida que a criatura humana se (re) aproxima do Criador pela via estética, redescobre a presença do divino em si e em cada aspecto da realidade.” (p.22)
Cap. II Arte, filosofia e educação1
Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem horas leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.
O dia vai morrer aberto em mim. “(Barros, 1996, p.45)
Neste segundo capítulo o autor reflete sobre o que poderíamos chamar de pontos de encontro entre a arte e suas diversas potencialidades de nos fazer “...compreender um pouco melhor o que nos rodeia ...” (p.28); a filosofia como prática reflexiva cujo objetivo maior é levar os indivíduos ao questionamento das realidades nas quais estão imersos, sendo seu fim último o “bem viver” do homem; e a educação como ideia de prática formativa que visa o desenvolvimento integral dos indivíduos em uma dada sociedade.
Para definir um primeiro ponto, em referência ao poema de Manuel de Barros citado na epigrafe, através de metáforas, PERISSÈ nos diz que
“A nossa experiência estética como receptores ativos se realiza no encontro entre nós e a obra de arte. Nossos “recantos” e “desvãos” são invadidos pela claridade da obra. Iluminam nossa interioridade, assim como um belo nascer do sol ilumina o nosso olhar, o nosso rosto, a nossa pele. Mas é preciso abrir os olhos e a inteligência. Sem alimentar ilusões quanto a uma impossível percepção total e absoluta.
A luminosidade da obra de arte, sua iniciativa, penetra-nos de cima a baixo. Ilumina porões e sótãos, planos inconscientes e “setores” da consciência. Pode alegrar ou assustar. Intrigar ou entristecer. Influencia-nos e impressiona-nos mas do que possamos calcular. Não estamos passivos, porém. A experiência viva dessa penetração luminosa é justamente o resultado da nossa recepção ativa. A claridade da obra é recebida como tal, é interceptada, acolhida e recriada – e nos sentimos então “preenchidos” de sentimentos e conceitos.” (p.30)
O autor entende educação estética como forma de formação e conhecimento que diz respeito a “aquisição da capacidade”, por parte dos indivíduos, de ler o mundo em suas diversas formas. Como dito no poema, é estar disponível e ser capaz de transitar entre as folhas de plantas e àquelas dos livros clássicos; entre as aves e a música elaborada pela mão humana; entre o erudito e o popular... Trata-se, de certa forma, de uma educação que permitirá a construção individual do conhecimento, uma vez que do encontro entre os indivíduos e a arte – sua fruição e prática – é possível que se “tornem visiveis” formas e significados que embora já existam em estado latente, ainda não haviam sido realizados. De modo que
“O 'duélogo' – duelo que é diálogo – entre artista e coisa faz surgir uma outra coisa, impregnada de novos significados ou novos sentidos, que por sua vez são oferecidos e reelaborados por quem vier contemplar/ ler/ ouvir a obra. (…) Multiplicam-se as percepções, os sentimentos, as lembranças, as intuições. Surgem leituras contrastantes, avaliações divergentes ou convergentes, aprendizados surpreendentes. (…) ajudam-nos a descobrir facetas ignoradas do nosso entorno. Como discurso interpretativo carregado de sentido, faz-nos compreender melhor que somos, para onde vamos, de onde viemos.” (p.32-33)
Considerando a autonomia e a subjetividade dos indivíduos, não se trata de transformar a arte em recurso didático utilizado para a aprendizagem de técnicas. Citando Tzvetan Todorov2, PERISSÉ nos (re) coloca frente a arte como potência educacional que permite tanto a contemplação quanto a produção de novos sentidos no mundo. Dito de outra forma, as artes “(...) nos ensinam, ao seu modo, ao modo poético, teatral, dramático, enfático, ao modo ficcional, o que antropólogos, sociólogos e filósofos também procuram nos dizer empregando a terminologia filosófica, sociológica, antropológica...” (p.35)
Notas
1Com o objetivo de diferenciar a atitude estética da atitude filosófica o autor nos diz que: “A beleza chama a atenção, atrai olhares, causa admiração. Extasiados, podemos permanecer mudos, absortos contemplando-a. A atitude filosófica, no entanto, vai além: reflete sobre a beleza, faz-nos pensar detidamente sobre ela (descobrindo novas nuances de beleza, descobrindo que há beleza até mesmo em realidades não tao belas...), faz-nos distinguir suas qualidades, problematizá-la, levantar hipóteses a respeito de sua apreensão, faz-nos desejar produzir outras coisas belas em resposta àquele estímulo.” (p.25-26)
2Em referência ao livro La littérature em péril lançado pela Editora Flammarion em 2007. “Todorov faz o alerta: a literatura corre sérios riscos. A escola e a universidade tornaram a literatura um pretexto, um trampolim para estudar os textos enquanto textos, e somente enquanto textos. Colocaram-na no tubo de ensaio. Sobre ela está o microscópio. Por força de análises estruturais, atentos à obra literária em si, atentas aos elementos internos da obra, abstraindo-se de sua relação com o mundo, com as pessoas comuns, com os grandes temas da vida... essas obras perderam seu ferrão, digamos assim.” (p.34)
Referências In Educação & Estética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. - (Coleção Temas & Educação) Fonte de Imagens: Google.







































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