sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

[Resenha] O Imprevisto Previsto. BUFALO, Joseane.

 

cenarios de giz3

De leitura simples este artigo apresenta parte da tese de mestrado entitulada: “Creche: lugar de criança, lugar de infância. Um estudo sobre as práticas educativas em uma CEMEI de Campinas”,  de Joseane M. P. Bufalo apresentada a Universidade de Campinas – UNICAMP em 1997. Nele a autora procura discutir as questões que perpassam a formação do educador infantil e também a importância do planejamento neste nível de ensino para que ele não se transforme apenas em um amontoado de imprevistos.

cenarios de giz1    cenarios de giz2

Reafirmo o convite a todos para que desengavetem suas produções. O conhecimento de nada nos vale se não for socializado!

Abraços de coisas boas,

Lorena Oliveira

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Resenha

Neste artigo Joseane Bufalo apresenta parte de sua dissertação de mestrado, realizada com base na observação em uma CEMEI na cidade de Campinas. Seus objetivos principais são contribuir com a formação de educadores de crianças pequenas e também com a construção de uma pedagogia da Educação Infantil. Para tanto, com aporte teórico na produção italiana1, toma como foco de suas observações o planejamento e as práticas realizadas por professoras e monitoras junto as crianças pequenininhas nas creche.

Entendendo a Educação Infantil como espaço do ser criança onde se combinam e se completam aspectos do cuidar e do educar; a autora se questiona quanto a realização de um planejamento que leve em conta estes aspectos; sobre que tipo de formações e concepções perfazem estes planejamentos e suas avaliações, assim como sobre as questões relativas a compreensão do espaço de Educação Infantil como espaço público específico de cuidado e educação portador de uma singularidade que o diferencia do espaço privado da família.

Partindo de tais questionamentos, muitas são as reflexões esboçadas pela autora, das quais opto por destacar as referentes ao planejamento e a divisão do trabalho nas creches; a especificidade da formação do profissional que trabalhará em espaços de Educação Infantil, bem como àquelas que consideram este espaço como local privilegiado de aprendizagem para professores e adultos imersos no cotidiano das crianças.

Considerando a importância de uma prática planejada e reflexiva sem que no entanto esta seja impositora e limitadora de movimentos no tempo espaço de ser criança, e no tempo espaço de ser professora de crianças pequenas; Bufalo observa, em um primeiro momento, não ser prática corrente para as monitoras2 a elaboração do planejamento. Questionadas sobre o fato, responderam que embora haja interesse não lhes é atribuído tempo para a realização deste projeto. Enquanto as professoras realizam esta função, cabe as monitoras apenas sua execução. A título de hipótese, a autora relaciona a situação a prática corrente na sociedade capitalista da divisão entre o trabalho manual e o intelectual como afirma ao citar Lenira Haddad:

“Hierarquicamente, a expectativa que se tem do profissional que cuida da criança é a da ação, do fazer. Pensar e planejar são expectativas que se tem da equipe de coordenação: o corpo de direção da creche e os seus técnicos. Espera-se que estes tenham em mãos a definição da meta e os objetivos da instituição.” (1990, p.196 Apud, 1999, p.196)

Desta forma há a dissociação dos aspectos do cuidar e do cuidar, uma vez que à professora cabe a organização e o planejamento dos aspectos ditos pedagógicos enquanto que à monitora, mesmo que sem um planejamento próprio, cabe o “enquadramento” e a execução dos aspectos relativos ao cuidado das crianças – atividades ditas não-pedagógicas. Tanto professoras quanto monitoras acabam por vivenciar a prática educativa nos espaços de educação infantil de modo fragmentado negligenciando a condição de indissociabilidade entre os aspectos do cuidado e da educação.

Ao ressaltar a necessidade de se planejar o tempo e o espaço3 na educação infantil, Bufalo também colabora para ampliar a discussão e o entendimento destes espaços, e das próprias crianças, como locus privilegiado de aprendizagem para o professor e demais adultos. Ao observar as crianças, elaborar o planejamento e realizar sua avaliação; a professora está ampliando suas possibilidades de reflexão e prática junto as pequenininhas (os). Assim a importância do adulto na creche ganha mais significado

“(...) pois, a partir da iniciativa da criança, como ressalta Catarsi, que introduz o inesperado e o não planejado, é necessário que o adulto seja capaz de interpretar e reorganizar as condições do momento sem, no entanto, esquecer-se dos objetivos propostos. Nessa perspectiva o adulto deve ser considerado também um aprendiz na medida em que, ao observar, conhece a criança e responde (ou ao menos tenta) às necessidades e ao inesperado.” (p.121)

Ressalta ainda a importância de o adulto ser um observador participante, sensível a produção infantil de modo a contribuir para a expansão de suas potencialidades de criação e descoberta.

“É nesse sentido que Faria (1994) discute a postura dos adultos em relação às crianças, no cotidiano da vida institucional e enquanto profissionais da educação infantil e afirma:

'Brincar com as crianças e permitir o tempo necessário para que elas possam brincar requer do adulto-educador conhecimento teórico sobre o brinquedo e o brincar, muita paciência e disciplina para observar, sem interferir em determinadas atividades infantis, além da disponibilidade para (re)aprender a brincar, recuperando/ construindo sua dimensão brincalhona. (…) É necessário, também, estar informado sobre a existência de diferentes tipos de conhecimento e de como se dá sua produção nas diferentes idades'” (p.121 apud Bufalo p.125-126)

É portanto, no sentido da reflexão sobre a criança e a infância, suas produções e o entendimento de sua condição enquanto sujeitos de direitos (que extrapolam a esfera do direito materno a creche), que se propõe a elaboração e a fundamentação de uma Pedagogia da Educação Infantil. Espaço ainda em construção (consideradas as ambiguidades que o constituem), passível de modificação, (re) fundamentação e re (definição) de suas teorias e práticas. A Educação Infantil deve caminhar com os objetivos de contrapor-se ao modelo escolarizante que transforma crianças em alunos; bem como os de (re)pensar os cursos de formação voltados a profissionalização das professoras/monitoras que ali trabalham de modo a permitir e fundamentar a condição indissociável dos aspectos de cuidar e educar; oficializar o lúdico, a brincadeira e as artes como fundamentos deste nível de ensino e ainda que se conceba seu planejamento como orientador de uma prática que ocorre de forma prevista mas essencialmente aberta para o imprevisto.

Notas

1Reconhecida como precursora de um trabalho de qualidade voltado a plenitude da infância.

2A creche pesquisada conta com uma educadora/ professora e uma auxiliar para assuntos diversos denominada monitora para cada turma.

3Considerando a especificidade da educação infantil e a indissociabilidade destes aspectos na elaboração de uma proposta voltada para a plenitude da infância.

Bibliografia

BUFALO, Joseane. O imprevisto previsto. In Revista Pró-Posições – v. 10, n° 1 (28) março de 1999.

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Para ler o artigo na integra clique aqui

Para acessar a dissertação de mestrado clique aqui

Fonte de Imagens: Fotos: Martin Waldbauer Por: Tchela Borges aqui

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