sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cap. 5. A educação dos corpos femininos e masculinos na Educação Infantil¹. de Daniela Finco


“O adulto com muita fadiga aprendeu a frear suas emoções e sensações corporais dando a elas uma forma discursiva. A criança pequena, ao contrário, se contrapõe ao adulto com uma escandalosa corporeidade, com necessidade de corpo inteiro.” (p.97.)
Daniela Finco inicia seu artigo pontuando a pouca ou (quase) inexistente discussão/reflexão a cerca do corpo nos cursos de formação docente. Trata-se de uma situação socialmente construída, onde o homem é concebido de forma a serem separados corpos e mentes; atribuindo-se, a partir da lógica de valoração que invariavelmente ocorre entre opostos, maior importância à mente em detrimento do corpo.
Mesmo sendo uma divisão inconcebível, do ponto de vista de serem corpo e mente indissociáveis, “ [...] há um aparato instrumental e institucional que busca constantemente – seja por mecanismos repressivos, seja pela projeção de um discurso socializador corregedor que impõe as crianças uma imagem estigmatizada de si mesmas – disciplinar esse corpo rebelde que busca fugir.” (p.95) ¹ Desta forma, a maioria dos espaços de educação infantil, bem como os cursos que pretendem formar educadores para este nível de ensino encontram-se imersos em um ambiente coercitivo e disciplinador da espontaneidade.
Seus espaços e tempos acabam por produzir e reproduzir um determinado modo de se comportar, condizente com aquele esperado do aluno nos demais níveis de ensino. Frequentemente espaço e tempo são controlados de forma rígida, não havendo espaço para a brincadeira que não seja aquela legitimada pelo seu aspecto de aquisição de habilidades. Dito de outra forma,
“A pré-escola acaba escolarizando as brincadeiras e os corpos. É possível perceber que o brincar ainda não é o eixo do trabalho pedagógico, não permeia as práticas educativas nesta etapa da educação. Muitas vezes o brincar é limitado a um tempo e a um espaço, o que acaba por transformá-lo em uma atividade educativa que se encerra apenas em seus aspectos externos e superficiais - o jogo educativo. “ (p.95)
Dito isto, Finco se propõe a discutir, de forma mais detida, o controle dos corpos e suas gestualidades a partir das diferenciações impostas entre meninos e meninas. Entendendo ser o corpo o local onde se inscreve e a partir do qual se pode “ver” ummeninos e meninasa determinada cultura, define o conceito de gênero como “[...] a forma pela qual as capacidades reprodutivas e as diferenças sexuais dos corpos humanos são trazidos para a prática social e tornadas parte do processo histórico.” (p.98 )Portanto, são nas relações entre adultos e crianças ou entre seus pares, que os corpos infantis vão sendo moldados em uma determinada forma de ser menino ou ser menina. Não havendo espaço para a multiplicidade de arranjos e experiências, as crianças acabam sendo submetidas de forma constante e sútil a estigmas que reproduzem os estereótipos de como ser homem ou ser mulher.
Afim de melhor elucidar tais práticas sociais, toma emprestadas as reflexões de uma série de autores (BROUGERÉ, 1995; BELOTTI, 1975; TEIXEIRA, 2000; DAÓLIO, 1995; SOARES, 2002) para caracterizar os brinquedos como “suportes veiculadores” de uma determinada, que acabam por reproduzir estereótipos e estigmas referentes ao que seja ser menino ou menina. Para a autora, são flagrantes as situações, por exemplo, em que brinquedos relacionados ao “mundo ativo do trabalho” são destinados aos meninos enquanto que ás meninas são oferecidos e destinados brinquedos relacionados as funções domésticas.
Sendo objetivo desta resenha apenas esboçar os principais pontos da reflexão propostos pela autora neste capítulo, encerro afirmando que embora enfática e um tanto quanto pessimista quanto a capacidade que as crianças tem de transgredir as regras e criar; a autora tem como objetivo enfatizar que
“Frente às opressões que as crianças vêm sofrendo – a de sexo e a de idade, entre outras -, meninos e meninas deixam de exercitar suas vontades, deixam de experimentar, de inventar e de criar. Ao invés de ampliar suas potencialidades, acabam inibindo e limitando suas forças criativas.” (p.105)
Nossa função, como professoras e professores? Antes de tudo, construir uma prática reflexiva que impeça a reprodução de comportamentos e pensamentos estereotipados, castradores e impositivos.

Abraços de coisas boas,
Lorena Oliveira

¹ In O Coletivo Infantil em creches e pré-escolas: falares e saberes. Ana Lúcia Goulart de Faria (org). – São Paulo: Cortez, 2007.

Um comentário:

  1. Ola Lorena, prazer em conhecer seu trabalho!
    Brincar é coisa séria!!!! este assunto me interessa e muito!
    venha me visitar www.euaprendoenquantoensino.blogspot.com

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