quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Educação, existência e estética – Jorge Larrosa


240px-O_Grito Dicotomia ciência/ técnica; teoria/ prática. A primeira como concepção de Educação enquanto ciência que produz tecnologias aplicáveis ao processo ensino-aprendizagem; aluno- professor. A segunda como elaboração crítico-reflexiva e, portanto político-estética.
Ao desenvolver sua teoria histórico-cultural, possivelmente embasado nas teorias materialistas de Karl Marx, A. S. L. Vigotsky concebe a idéia de palavra como instrumento de mediação entre os indivíduos. Para o autor o bicho homem transforma-se em ser sociável a medida em que a cultura (elaborada ao longo dos séculos da existência humana), mediada principalmente pelas palavras,  vai sendo repassada, de modo constante, aos membros mais novos da comunidade. Sendo as palavras capazes de construir, transformar, comunicar ou salientar uma realidade; Larrosa (2002) ao dizer que “As palavras com que nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos, o que percebemos ou o que sentimos são mais do que simplesmente palavras.”, nos coloca frente a importância das escolhas que fazemos ao utilizá-las para formular nossas concepções e reflexões a cerca da vida e dos processos educativos.
Via de regra, o autor se preocupa em desnaturalizar os conceitos relativos a experiência. Entende-se que o indivíduo moderno não experencia sua existência em detrimento de um cotidiano ou das relações que nele se estabelecem estarem cada vez mais aceleradas. Diz-se em nossa sociedade que vivemos na “era da informação”, na sociedade do conhecimento onde “A velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão pela novo (…) impedem a conexão significativa entre acontecimentos.” Sendo o sujeito dessas relações aquele que se movimenta, que atua, que interfere e opina com base em informações. Na modernidade, distancia-se da experiência na proporção em que acumula informações; possui um excesso de opiniões; falta de tempo e excesso de trabalho.
Dito isto, convém ressaltar que acumular informação não é adquirir conhecimento . Para o autor o saber ou a aquisição do conhecimento só são possíveis a medida em que resultam de experiências. Definindo-as como
“(…) a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar,  e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos…”
Sendo seu sujeito aquele que permite-se parar e olhar, com atenção e delicadeza, o cenário que o cerca diariamente encarando-o como material vivo que constantemente se constrói e reconstrói; sendo possíveis, em realidade, os mais diversos arranjos e construções de ações e palavras; prática e teoria. Salientando que
“Trata-se, porém, de uma passividade anterior á oposição entre ativo e passivo, de uma passividade feita de paixão, de padecimento, de paciência, de atenção como uma receptividade primeira, como uma disponibilidade fundamental (…)”
Dito isto, como não questionar a realidade que nos é imposta? Onde fica a existência plena? Aquela que se constrói a partir das experiências dos indíviduos, a partir de uma estética própria de cada ser?

Seguimos aprendendo…
Grande abraço de coisas boas,
Lorena Oliveira


Referência:
Larrosa, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. N°19. jan/fev/mar/abr 2002.
Imagem: O Grito. Edvard Munch, 1983.

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